segunda-feira, 13 de dezembro de 2010

SÍNDROME DO PINÇAMENTO SUBACROMIAL EM ATLETAS DE NATAÇÃO MODALIDADE CRAWL



Trabalho de Conclusão de Curso para obtenção do título de especialista em Fisioterapia Aplicada à Ortopedia e Traumatologia – Unicamp/Extecamp- Fevereiro de 2010

Claudia Aline Torres Dias dos Santos, João Ricardo de Oliveira Gadioli, José Augusto Ribeiro de Arruda Brito, Lílian Monteiro Nascimento, Marília Manuella Simões Augusto, Patrícia Pansani, Sabrina Baú Betim.

INTRODUÇÃO
A natação é um esporte praticado desde a Grécia Antiga (a.C).1 É um esporte completo e rigoroso, e foi imposto nos jogos olímpicos em 1896. Por ser um esporte popular inicia-se desde bebê, e seu nível competitivo começa a partir dos 5 e 6 anos de idade.2 Os treinos para competidores de elite são intensos, com aproximadamente 15.000 metros diários, com treinos de musculação associado, esses atletas chegam a realizar 30.000 braçadas por temporada.3 Em1974 foi designado um termo chamado de "ombro do nadador" usado para descrever uma síndrome dolorosa causada pelo impacto repetitivo no ombro de atletas de natação.4 A dor que os atletas referem é causada por overuse, ou seja, uso repetitivo e excessivo da articulação do ombro. A articulação do ombro é a mais móvel e conseqüentemente mais instável do corpo humano. O movimento da articulação do ombro contém a flexão e a extensão, a abdução e a adução, as rotações medial e lateral e a circundução. A biomecânica consiste em movimentos combinados e o sinergismo da musculatura. O deltóide está ativo desde o inicio da abdução, ele pode realizar a abdução sozinho até a sua máxima amplitude ao redor dos 90° de abdução. Para a abdução completa é necessário a ajuda do supra-spinhal, sua atividade máxima aparece aos 90° de abdução. O supra-espinhal é sinérgico com os rotadores, que ajuda com força e eficácia o deltóide, pois quando atua isoladamente se fadiga rapidamente. Em resumo a sua ação é ao mesmo tempo qualitativa sobre a coaptação articular e quantitativa sobre a resistência e potência da abdução. Diante da quantidade e potência dos rotadores interno (grande dorsal, subescapular, redondo maior e peitoral maior), os rotadores externos (infra-espinhal e redondo menor) são fracos, porém são indispensáveis para a utilização correta do MMSS, porque só eles podem afastar a mão da superfície anterior do tronco. Deslocando para frente e para fora.5 Na natação, modalidade crawl os músculos possuem grande importância como: supra-espinhal e rotador lateral: tração, abdução na recuperação; infra-espinhal: estabilizador articular nos estágios da recuperação; redondo menor: estabilizador de todos os movimentos do braço; subescapular: rotação medial nos movimentos propulsivos, tração, adução no movimento rigoroso do braço submerso, empurre no nado crawl.6 O nado crawl, hoje, é um dos estilos mais rápido e normalmente utilizado nas provas de nado livre, assim, alguns pesquisadores optam por dividir a técnica crawl em quatro fases: recuperação inicial, recuperação final, propulsão inicial e propulsão final, como mostra a Figura 1. Os músculos mais solicitados são o subescapular, supra-espinhoso e redondo menor, já que estão moderadamente ativos em mais de 50% do ciclo do nado.7 A técnica crawl está diretamente relacionada à instabilidade da articulação glenoumeral, havendo necessidade de uma atenção maior para rotadores externos no treino de musculação, equilibrando a musculatura que é o mecanismo estabilização dinâmica que auxiliam na ordem funcional das estruturas, com auxilio dos estabilizadores estáticos: ligamentos, cápsula articular, tendões.1

Conhen e Abdalla (2001) mencionam sobre o nado Crawl, que durante a braçada, o ombro do nadador, é colocado em uma posição de risco para a Síndrome do pinçamento subacromial isto ocorre principalmente durante a fase de tração onde está realizando adução e rotação medial, para em seguida, restaurar-se a abdução, tornando assim o tendão mais vulnerável às lesões por meio de inúmeros movimentos repetitivos.8 Volpan e Muniz (1997) relatam que a síndrome do pinçamento subacromial é uma tendinopatia que comprime o tendão (por isso, também é chamado de Síndrome do Impacto) do músculo supraespinhoso, infra-espinhoso ou cabeça longa do bíceps braquial no arco coraco-acromial, provocada pela elevação excessiva do braço acima de um ângulo da linha do ombro. Em 1972 Neer classificou o aparecimento desta patologia em 3 fases:

Fase I - ocorre edema e hemorragia local.

Fase II – ocorre presença de tendinite e fibrose.



Fase III – ocorre formação de osteofito e ruptura do tendão supra-espinhoso ou cabo longo do bíceps.

Os tratamentos para esses atletas são realizados por uma equipe multidisciplinar, que consistem na prevenção, tratamento conservador e se necessário cirúrgico. A fisioterapia tem um papel importante, fazendo um trabalho que constituem em geral de alongamento da cintura escapular, técnicas de relaxamento muscular, aprendizagem motora para normalizar os padrões disfuncionais dos movimentos, propriocepção, fortalecimento do manguito rotador, com ênfase aos rotadores externos e recursos termofototerapêutico . Melhorar a dor, a satisfação do paciente, reduzir os níveis de incapacidade, perda funcional e amplitude de movimento, que são os principais objetivos dos programas de exercícios terapêuticos.9

O objetivo desta presente revisão bibliográfica foi verificar e analisar a síndrome do pinçamento subacromial que acomete a articulação do ombro, em atletas de natação da modalidade crawl.


MATERIAIS E MÉTODOS
As publicações foram pesquisadas nas bases Scielo, Medline, Lilacs, Bireme e Science Direct com as seguintes palavras-chave: shoulder pain, subacromial impingement syndrome, impingement syndrome in athletes, lesões em atletas de natação, natação e nado crawl. Foram excluídos os artigos sobre lesões agudas ou traumas ocorridos durante as atividades de vida diária e de toda ordem se não associada com a prática da natação. Para cada artigo foram extraídos detalhes quanto à etiologia da síndrome do pinçamento subacromial, história da natação, características da modalidade crawl, incidência de lesões e fatores de risco.


RESULTADO
A procura nos arquivos eletrônicos citados identificou 42 artigos. Após a exclusão dos artigos utilizando-se dos critérios estabelecidos, 30 artigos foram selecionados para leitura, tendo sido citado 14 artigos na revisão.


DISCUSSÃO

A estabilidade e mobilidade articular do ombro é resultado da interação complexa dos seusdiferentes ligamentos e músculos. A fraqueza muscular e a pouca flexibilidade causam desequilíbrios biomecânicos que podem resultar em disfunção e dor.10 A síndrome do pinçamento subacromial é caracterizada pela redução do espaço subacromial nos movimentos de abdução ou flexão conjuntamente a rotação interna, levando os tecidos compreendidos neste espaço a ficarem comprimidos, atritando e impactando as bursas, o tendão da cabeça longa do bíceps e o tendão do supra-espinhal entre a cabeça do úmero e o teto coracoacromial ou acrômio. O impacto tende causar micro e macrotraumatismos nos tendões provocando tendinites e conseqüente bursite. insistência desta síndrome pode acarretar em ruptura parcial ou total do manguito rotador.11

Na natação, devido à repetitiva utilização da musculatura do ombro, existe uma maior propensão para lesões, essencialmente motivadas pelos desequilíbrios entre rotadores internos (RI) rotadores externos (RE).


Os nadadores apresentam como característica os RI do ombro forte,devido ao excesso de contrações concêntricas realizadas durante a fase de propulsão durante o nado. 12 No entanto, alta demanda excêntrica colocada sobre o RE causa fadiga crônica, inflamação na articulação que torna difícil o controle da cooptação da cabeça umeral na fossa glenoidal, predispondo ombro a lesão . A descompensação encontrada na articulação glenoumeral parece aumentar com número de anos de prática e aumento de horas de treino.12
Os artigos apresentam-se heterogêneo com relação ao acréscimo de lesões relacionados ao aumento de tempo de prática esportiva e o número de horas de treino por semana.

Mello et al (2007) selecionou 63 nadadores de ambos os sexos. A queixa de dor geralmente tem início depois de 6 a 8 anos de experiência no esporte, o que equivale a aproximadamente 10 km nadados ou a cerca de 3 a 4 milhões de braçadas em cada braço. O artigo constatou que aumento do tempo de prática do esporte, aumenta sobrecarga no complexo do ombro, 82% dos atletas selecionados apresentaram tempo de prática maior que 10 anos, foram encontrados altos índice de tendinite e bursites, lesões estas que apresentam característica de sobrecarga e acesso de movimentos repetitivos.13

Cohen et al, (1998) realizou estudo no troféu Brasil de natação e avaliaram 205 atletas de elite, considerou o tempo médio de pratica de 12 anos e com média metragem semanalmente de 46 km.
Segundo a análise estatística, não foi significante a correlação da dor no ombro com o tempo de prática do esporte e a metragem do treinamento semanal. Concluiu em seu trabalho que incidência de dor no ombro não aumenta com o tempo de prática da natação, pois não encontrou dados estatísticos significantes.14

Observamos que devido aos nadadores utilizaram os membros superiores excessivamente, as estruturas do espaço subacromial sofrem compressão excessiva desencadeando inflamação das estruturas e como conseqüência espessamento da bursa e dos tendões supra-espinha e cabeça longa do bíceps levando a uma diminuição do espaço subacromial.
O que também se tornou notório através da nossa revisão foi que os músculos do manguito rotador é o principal estabilizador dinâmico e coaptador do ombro. Havendo um desequilíbrio muscular, temos como conseqüência uma instabilidade glenoumeral e o aumento das lesões, sendo assim muito importante associar com o treino de natação os exercícios de fortalecimento e equilíbrio muscular realizado na musculação.


CONCLUSÃO
Da análise dos estudos, pode-se afirmar que os distúrbios do ombro são influenciados por fatores biomecânicos relacionados a prática da natação . A diferença das forças dos rotadores internos externos estão diretamente relacionada com desequilíbrio muscular, facilitando a ação de tração do músculo deltóide, resultando na diminuição do espaço subacromial propiciando um aumento do choque das estruturas. Sendo assim atletas de natação modalidade crawl que não faz um bom trabalho preventivo tem alta probabilidade de desenvolver a síndrome do pinçamento sub. acromial. Nos artigos pesquisados observamos que ainda existe muita controversa com relação ao tempo de prática esportiva e o número de horas de treino por semana relacionado aos índices de lesões.

Referencias Bibliográficas
1- SCHLEMM, Fabiana. A Importância da Flexibilidade na Natação. 2007. Monografia - Curso de Fisioterapia, Departamento de Faculdade de Ciências Biológicas de Saúde, Uniguaçu, União da Vitória - Pr, 2007.

2- O, Casey J. et al. Identifying and Managing Shoulder Pain in Competitive Swimmers: How to Minimize Training Flaws and Other Risks. The Physician and Sportsmedicine, v. 33, n. 9, set. 2005.
3- Kammer, C. S. et al. Swimming injuries and Illnesses. The Physidian and sportsmedicine, Minneapolis, v.27, n.4, p.51-60, 1999.


4- Cunha, G.M. et al. Avaliação ultra-sonográfica da articulação do ombro em nadadores de nível competitivo. Radiol Bras. 2007, vol.40, n.6, pp. 403-408.


5- Kapandji, A. I. Fisiologia Articular, membro superior, volume 1, 5° edição. Guanabara Koogan, 2001.


6- Busso, G. L. Proposta preventiva para laceração no manguito rotador de nadadores. R. bras. Ci.e Mov. 2004; 12(3): 39-45.


7- Pakenas, A. et al Relação entre atividade física e sobrecarga mecânica na articulação gleno-umeral. Revista Portuguesa de Ciências do Desporto, 2002, vol. 2, nº 91–97.


8- Ejnisman, B. et al. Lesões músculo-esqueléticas no ombro do atleta: mecanismo de lesão, diagnostico e retorno à prática esportiva. Rev. Bras. Ortop. Vol. 36, 10 – Outubro, 2001.


9- Lori A. et al. Effectiveness of Rehabilitation for Patients with Subacromial Impingement Syndrome: A Systematic Review. Journal of Hand Therapy. April–June 2004.


10- P. Schneider et al. Força muscular de rotadores externos e internos de membro superior em nadadores púberes masculinos e femininos. R. bras. Ci. e Mov. 2006; 14(1): 29-36.


11- Brown, D. E. et al. Segredos em Ortopedia. Porto Alegre: Artmed. (2001).


12- Ramsi,M. Swanik, K.A. Swanik,C.Straub, S.Mattacola,C.Shoulder- rotator strength of high scholl swimers over te course of a competitive season. Jornal of sport rehabilitation. Human Kinetics Pub.USA.vol 13; Part 1,9-18.2004.


13- Mello et al. Lesões musculoesqueléticas em atletas competidores da natação - Fisioterapia em Movimento, Curitiba, v. 20, n. 1, p. 123-127, jan./mar., 2007.


14-Cohen, M. et al. Incidência de dor no ombro em nadadores brasileiros de elite. Rev Bras Ortop _ Vol. 33, Nº 12 – Dezembro, 1998.

Um comentário:

Anônimo disse...

Guto legal vc ter colocado nosso trabalho no blog